Vale Tudo Menos Times Corpo Doze
Há quem diga que o melhor design é invisível e depois só se preocupe com o que está mais à vista. Por exemplo, a maioria dos designers portugueses só se aflige com os aspectos mais refinados do design de livros quando fala ou edita para outros designers. A obra de Tschichold, Goudy, Morison e Bringhurst é amplamente citada mas a sua aplicação concreta vai ficando adiada para dias menos apressados ou lucrativos.
Se os detalhes são descuidados, a marca do designer fica-se pela escolha exótica do formato, papel ou fontes e por algum cuidado com a capa. Fora isso, a lista das queixas é interminável. Já vi livros assinados por designers "conhecidos da nossa praça" com texto alinhado pela borda (invisível depois de impressa) da caixa de texto; leading variável ao longo da página; indentações no começo dos capítulos; viúvas e órfãos à descrição; espaçamento irregular em fontes mono-espaçadas (provocado por justificação em bloco); etc, etc.
Como é natural, para deslizes comuns existem os suspeitos do costume: o estagiário ignorante, o designer júnior incompetente, o cliente melga, a gráfica "criativa" e por aí fora. Só não se fala do culpado mais provável: o art director à portuguesa, do género "fui-almoçar-com-uns-amigos-importantes-no-meu-carro-de-grande-cilindrada-e-nunca-mais-ninguém-me-viu-até-aparecer-o-cheque".
Não sei se estas foram as causas, mas na edição portuguesa de Austerlitz de W.G.Sebald (desconheço o designer) a falta de cuidado é manifesta: os cuidados de paginação da edição inglesa (de que já falei neste blog) foram para o espaço; as imagens, mesmo quando não estão muito ampliadas, têm demasiado grão e contraste — parece que foram fotocopiadas de um jornal (nas edições inglesa e francesa parecem mesmo fotografias).
(É quase injusto dar apenas um exemplo quando a falta de cuidado é de tal maneira generalizada. Fica apenas uma última preocupação: qual é a legitimidade do designer se, muitas vezes, o seu trabalho de paginação se limita a uma imitação hiper-orçamentada do Word, impressa em papel caro e com uma capa vistosa?)
Se os detalhes são descuidados, a marca do designer fica-se pela escolha exótica do formato, papel ou fontes e por algum cuidado com a capa. Fora isso, a lista das queixas é interminável. Já vi livros assinados por designers "conhecidos da nossa praça" com texto alinhado pela borda (invisível depois de impressa) da caixa de texto; leading variável ao longo da página; indentações no começo dos capítulos; viúvas e órfãos à descrição; espaçamento irregular em fontes mono-espaçadas (provocado por justificação em bloco); etc, etc.
Como é natural, para deslizes comuns existem os suspeitos do costume: o estagiário ignorante, o designer júnior incompetente, o cliente melga, a gráfica "criativa" e por aí fora. Só não se fala do culpado mais provável: o art director à portuguesa, do género "fui-almoçar-com-uns-amigos-importantes-no-meu-carro-de-grande-cilindrada-e-nunca-mais-ninguém-me-viu-até-aparecer-o-cheque".
Não sei se estas foram as causas, mas na edição portuguesa de Austerlitz de W.G.Sebald (desconheço o designer) a falta de cuidado é manifesta: os cuidados de paginação da edição inglesa (de que já falei neste blog) foram para o espaço; as imagens, mesmo quando não estão muito ampliadas, têm demasiado grão e contraste — parece que foram fotocopiadas de um jornal (nas edições inglesa e francesa parecem mesmo fotografias).
(É quase injusto dar apenas um exemplo quando a falta de cuidado é de tal maneira generalizada. Fica apenas uma última preocupação: qual é a legitimidade do designer se, muitas vezes, o seu trabalho de paginação se limita a uma imitação hiper-orçamentada do Word, impressa em papel caro e com uma capa vistosa?)