O Respeitinho
Existem designers em Portugal sobre os quais não podemos dar uma opinião negativa. Não falo sequer de uma reacção dos designers visados, mas de quando alguém afirma que um trabalho não pode ser mau apenas porque foi feito por um determinado designer e que sugerir o contrário seria falta de respeito.
Ao folhear um livro do Neville Brody, do Peter Saville ou do Stefan Sagmeister, posso dizer “Gosto muito deste trabalho”, “Não tanto deste” e “Mesmo nada deste outro”, mas, nas discussões públicas sobre design português, é costume aceitar-se tudo em bloco. O próprio design português é defendido em bloco. Tudo ou nada. As razões apresentadas para justificar esta postura são várias, todas elas fanhosas – o design português ainda está a começar e é preciso apoiá-lo; ainda não há condições para criticar; é preciso ser qualificado para criticar; criticar é faltar ao respeito; etc. No entanto, a grande verdade continua a ser que, mesmo gostando realmente do trabalho de um designer, ou do design feito num determinado país, há sempre trabalhos menos interessantes, ou mesmo muito fracos (ninguém é perfeito).
Ora, eu não quero ser obrigado a defender em público um trabalho que acho fraco, simplesmente por ter sido feito por um designer português. Não gostar de uma coisa e poder dizê-lo em voz alta é bom e saudável. Não o fazer pode estimular a auto-estima a curto prazo, mas leva também às más surpresas do costume, que é alguém dizer que o rei vai nu, que o design português também está na cauda da Europa, etc. (Recentemente, isso aconteceu numa crítica da revista Eye à Experimenta Design, onde a exposição [P], representativa do design português dos últimos quinze anos, foi particularmente arrasada.)
Quando se compara o Design Português com o Design Inglês, Suíço, Francês, é preciso ter consciência que todos estes designs têm há muito uma produção crítica extensa. Qualquer designer que faça parte do cânone destes países já escreveu, já deu conferências, já foi alvo de críticas nem sempre positivas, já esteve fora de moda e já voltou. Poucos designers portugueses foram alvo deste género de atenção, e menos ainda estão habituados a que alguém ponha em causa o seu trabalho. No entanto, para que o design português cresça em qualidade é preciso que entre na esfera pública, o que significa que tem de deixar de acreditar que tudo o que é português é bom, para começar a ser mais exigente consigo mesmo. Aquilo que é digno de respeito não receia a exposição pública. O melhor design pode e deve ser discutido regularmente em público. O verdadeiro respeito não se impõe, é merecido.
Ao folhear um livro do Neville Brody, do Peter Saville ou do Stefan Sagmeister, posso dizer “Gosto muito deste trabalho”, “Não tanto deste” e “Mesmo nada deste outro”, mas, nas discussões públicas sobre design português, é costume aceitar-se tudo em bloco. O próprio design português é defendido em bloco. Tudo ou nada. As razões apresentadas para justificar esta postura são várias, todas elas fanhosas – o design português ainda está a começar e é preciso apoiá-lo; ainda não há condições para criticar; é preciso ser qualificado para criticar; criticar é faltar ao respeito; etc. No entanto, a grande verdade continua a ser que, mesmo gostando realmente do trabalho de um designer, ou do design feito num determinado país, há sempre trabalhos menos interessantes, ou mesmo muito fracos (ninguém é perfeito).
Ora, eu não quero ser obrigado a defender em público um trabalho que acho fraco, simplesmente por ter sido feito por um designer português. Não gostar de uma coisa e poder dizê-lo em voz alta é bom e saudável. Não o fazer pode estimular a auto-estima a curto prazo, mas leva também às más surpresas do costume, que é alguém dizer que o rei vai nu, que o design português também está na cauda da Europa, etc. (Recentemente, isso aconteceu numa crítica da revista Eye à Experimenta Design, onde a exposição [P], representativa do design português dos últimos quinze anos, foi particularmente arrasada.)
Quando se compara o Design Português com o Design Inglês, Suíço, Francês, é preciso ter consciência que todos estes designs têm há muito uma produção crítica extensa. Qualquer designer que faça parte do cânone destes países já escreveu, já deu conferências, já foi alvo de críticas nem sempre positivas, já esteve fora de moda e já voltou. Poucos designers portugueses foram alvo deste género de atenção, e menos ainda estão habituados a que alguém ponha em causa o seu trabalho. No entanto, para que o design português cresça em qualidade é preciso que entre na esfera pública, o que significa que tem de deixar de acreditar que tudo o que é português é bom, para começar a ser mais exigente consigo mesmo. Aquilo que é digno de respeito não receia a exposição pública. O melhor design pode e deve ser discutido regularmente em público. O verdadeiro respeito não se impõe, é merecido.