Expectativa
Segundo parece, na emigre #67, Kenneth Fitzgerald vai enumerar alguns dos expedientes que os designers usam para evitar a crítica.
Mal consigo esperar. Se calhar ele vai falar da "Messianização Crítica", onde o visado assume que ninguém tem actualmente autoridade para o criticar. Nos casos mais modestos, chega a afirmar que nem ele próprio se poderia criticar. Não, provavelmente Fitzgerald não perderia tempo com um estratagema tão óbvio.
Mantendo a temática bíblica, ele poderia debater a "Terra-Prometida Crítica", um sítio onde existe um debate saudável, construtivo e regular por oposição ao local actual. É costume esse sítio ser a América (onde se trocam cartas explosivas, processos judiciais ou gatos mortos por dá cá aquela palha). Ou a Inglaterra (onde as polémicas e os rancores - e as cartas, os processos e os gatos - se arrastam publicamente por anos). Ou a Holanda (onde se abatem pessoas a tiro pelas mais variadas razões). Pelo contrário, em Portugal não há, obviamente, condições para haver crítica.
É provável que Fitzgerald prefira falar dos méritos retardantes da "Administração Cultural", onde não há crítica porque toda a gente está demasiado ocupada em reuniões, requerimentos e candidaturas cujo objectivo é criar condições para haver crítica (ou até cultura). Até lá, convém manter o consenso, cerrar os dentes e jogar em equipa.
Uma outra versão da "Administração Cultural" é o "Objectivo Consensual", que se traduz numa daquelas datas-logotipo (Expo98, Porto2001, Euro2004, etc). Pode desvalorizar-se ou mesmo silenciar-se a crítica antes da data expirar porque compromete o evento; depois do "prazo de validade" há tanta crítica que ninguém liga nenhuma.
Mas se Fitzgerald quisesse falar de um processo tão retorcido, tão inverosímil, tão improvável que ninguém no seu juízo perfeito o usaria de certeza (eu até tenho vergonha de o referir). Bom…se ele ousasse perder toda a sua credibilidade, ele falaria do método "Chinatown". Neste caso, o visado não faz nada. A.b.s.o.l.u.t.a.m.e.n.t.e. n.a.d.a. O segredo está em pôr isso no currículo da maneira mais clara possível. Se isso for bem feito, pode alcançar-se uma posição de autoridade inatacável (aquilo que não acontece, não pode ser criticado). Por exemplo, se se está a adiar uma investigação teórica há trinta anos isso pode (obviamente) contar como experiência profissional prolongada. O nome deste método evidentemente irrealista deve-se ao filme do mesmo nome, onde John Huston dizia que "os prédios, os políticos e as putas, todos eles ficam respeitáveis com a idade".
Enfim… tudo isto é ficção científica, pensamentos ociosos… e a emigre nunca mais chega…
Mal consigo esperar. Se calhar ele vai falar da "Messianização Crítica", onde o visado assume que ninguém tem actualmente autoridade para o criticar. Nos casos mais modestos, chega a afirmar que nem ele próprio se poderia criticar. Não, provavelmente Fitzgerald não perderia tempo com um estratagema tão óbvio.
Mantendo a temática bíblica, ele poderia debater a "Terra-Prometida Crítica", um sítio onde existe um debate saudável, construtivo e regular por oposição ao local actual. É costume esse sítio ser a América (onde se trocam cartas explosivas, processos judiciais ou gatos mortos por dá cá aquela palha). Ou a Inglaterra (onde as polémicas e os rancores - e as cartas, os processos e os gatos - se arrastam publicamente por anos). Ou a Holanda (onde se abatem pessoas a tiro pelas mais variadas razões). Pelo contrário, em Portugal não há, obviamente, condições para haver crítica.
É provável que Fitzgerald prefira falar dos méritos retardantes da "Administração Cultural", onde não há crítica porque toda a gente está demasiado ocupada em reuniões, requerimentos e candidaturas cujo objectivo é criar condições para haver crítica (ou até cultura). Até lá, convém manter o consenso, cerrar os dentes e jogar em equipa.
Uma outra versão da "Administração Cultural" é o "Objectivo Consensual", que se traduz numa daquelas datas-logotipo (Expo98, Porto2001, Euro2004, etc). Pode desvalorizar-se ou mesmo silenciar-se a crítica antes da data expirar porque compromete o evento; depois do "prazo de validade" há tanta crítica que ninguém liga nenhuma.
Mas se Fitzgerald quisesse falar de um processo tão retorcido, tão inverosímil, tão improvável que ninguém no seu juízo perfeito o usaria de certeza (eu até tenho vergonha de o referir). Bom…se ele ousasse perder toda a sua credibilidade, ele falaria do método "Chinatown". Neste caso, o visado não faz nada. A.b.s.o.l.u.t.a.m.e.n.t.e. n.a.d.a. O segredo está em pôr isso no currículo da maneira mais clara possível. Se isso for bem feito, pode alcançar-se uma posição de autoridade inatacável (aquilo que não acontece, não pode ser criticado). Por exemplo, se se está a adiar uma investigação teórica há trinta anos isso pode (obviamente) contar como experiência profissional prolongada. O nome deste método evidentemente irrealista deve-se ao filme do mesmo nome, onde John Huston dizia que "os prédios, os políticos e as putas, todos eles ficam respeitáveis com a idade".
Enfim… tudo isto é ficção científica, pensamentos ociosos… e a emigre nunca mais chega…