Detalhes
Dois dias antes do salário vir, comprei Austerlitz de W.G.Sebald com os últimos doze euros. Valeu a pena o sacrifício.
Era uma tradução inglesa do alemão original e, ao folheá-lo, reparei imediatamente no entrelinhamento e margens anormalmente generosos. Talvez o designer tivesse decidido fugir às regras acanhadas do paperback comum. No entanto, embora as margens amplas fossem agradáveis, o leading excessivo era ligeiramente incómodo, ameaçando a unidade da mancha de texto.
Pus de parte as minhas obsessões profissionais de designer, encolhi os ombros e comecei a ler. Era um livro realmente hipnótico, com um fio narrativo aparentemente disperso, mas que agarrava de maneira quase compulsiva.
Em muitas páginas apareciam fotografias que correspondiam a lugares ou objectos relacionados com a narrativa. Estranhamente, apesar da sua aparência documental, conseguiam tornar a história ainda mais fantasmagórica e estranha.
Li sessenta páginas nas primeiras duas horas. No dia seguinte, li mais cem. Nessa altura entendi a razão da fluidez da narrativa (e do leading excessivo e das margens grandes). Folheei o livro até ao fim só para confirmar: era um único e ininterrupto parágrafo de quatrocentas e treze páginas, que uma boa escrita e os cuidados do designer tinham ajudado a suavizar até ao ponto de nem repararmos.
Era uma tradução inglesa do alemão original e, ao folheá-lo, reparei imediatamente no entrelinhamento e margens anormalmente generosos. Talvez o designer tivesse decidido fugir às regras acanhadas do paperback comum. No entanto, embora as margens amplas fossem agradáveis, o leading excessivo era ligeiramente incómodo, ameaçando a unidade da mancha de texto.
Pus de parte as minhas obsessões profissionais de designer, encolhi os ombros e comecei a ler. Era um livro realmente hipnótico, com um fio narrativo aparentemente disperso, mas que agarrava de maneira quase compulsiva.
Em muitas páginas apareciam fotografias que correspondiam a lugares ou objectos relacionados com a narrativa. Estranhamente, apesar da sua aparência documental, conseguiam tornar a história ainda mais fantasmagórica e estranha.
Li sessenta páginas nas primeiras duas horas. No dia seguinte, li mais cem. Nessa altura entendi a razão da fluidez da narrativa (e do leading excessivo e das margens grandes). Folheei o livro até ao fim só para confirmar: era um único e ininterrupto parágrafo de quatrocentas e treze páginas, que uma boa escrita e os cuidados do designer tinham ajudado a suavizar até ao ponto de nem repararmos.
17 Comments:
lembro-me de numa entrevista o henrique cayatte defender uma atitude de 'designer invisível', um pouco como acontece nesse livro que descreves.
quanto a mim é a atitude mais correcta. :-)
ah, e o nome do autor é W.G.Sebald.
mil desculpas pelo engano e obrigado pela atenção. o nome do autor já foi corrigido ; )
Esperemos que o Henrique Cayatte não seja um (novo) presidente invisível do CPD (há rumores, boatos e factos).
Design aos Designers!
o Cayate é gajo pra dizer muitas coisas giras…mas, se calhar, em termos tipográficos ele não será uma referência…bem, é melhor mudar de assunto.
you don't need a graphic designer. do it yourself!
por acaso escrevi que ele era uma referência em termos tipográficos?
já agora, diz-nos tu quem são as referências.
calma! isto não é nenhum ataque pessoal. Mas convenhamos que quando se está a falar de cuidados tipográficos e qualidade de paginação na feitura de livros, falar no Cayatte é um pouco descabido.
bom, então eu não passei bem a mensagem :[
mas passo a explicar:
utilizei o particular aqui descrito (paginação / tipografia) para realçar a atitude que eu julgo ser a mais correcta também no global (design de comunicação), atitude à qual o henrique cayatte fez referência numa entrevista.
no entanto, não julgo ser assim tão descabido falar no cayatte quando falamos em boa tipografia/paginação de livros: o H.C. fez bons trabalhos nesta área, embora pouco conhecidos. o problema é que quando falam em paginação/tipografia+henrique cayatte, falam apenas do Público e da Egoísta... e mais nada. :[
desculpa lá, mas vais dizer que fazer capas e "despejar" o texto do word no resto do livro tem algo de assinalável? ou então estamos a falar de cayattes diferentes (é que eles são tantos - estou a brincar com a escravatura:^)
oxalá maioria do designers despeje texto do word para dentro de livros pelo menos como o cayatte (designer/atelier) faz... estaríamos menos mal :-{
vcs os 2 ainda se magoam...
vocês os dois...???
3?
032?
032 em qualidade (falta de...) é o apogeu dos blogs de design
Ressabiator,
Estou a ressacar... É que já lá vai mais de um mês desde que escreveste aqui pela última vez...
Da minha parte ficam aqui 10 "discos pedidos".
Que tal um "post" descontraído sobre:
1. a evolução dos elementos de estilo (florões, filetes, molduras...) dos livros no período compreendido entre a invenção da imprensa e a Escola de Barbizon.
2. os tiques dos "flyers" das festas de Trance
3. o fenómeno Neo2, Lab, etc.
4. Otl Aicher
5. os cartazes das festas em nome dos santos padroeiros das aldeias
6. a Rev-Design
7. a blogosfera e o design
8. o King of the Hill
9. o novo logotipo da E.D.P.
10. o Sr. Jerónimo, o Freitas e o Nuno
Com os melhores cumprimentos e abraços saudosos.
João Marrucho
By Freeza from nozes2.modblog.com
humm a logomarca da edp para mim esta muito bem conseguido, apesar do lettering escolhido para alogomarca estar mais que batida e nao consigo achar piada ao conceito... nao vejo mt a ligação. é mais um daqueles casos em q parece q inventam um conceito depois de fazerem o logo
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