terça-feira, maio 11, 2004

O Designer como Charlatão

This Essay has had a specific design in Mind: It set out to expose the cunning and deceptive aspects of the word design.

Vilém Flusser


Imaginem isto: numa universidade, em plena aula, o professor diz aos alunos "Eu sou o vosso cliente; se me enganarem, passam". À primeira vista, talvez se trate de uma aula de arte, seja ela poesia, teatro ou literatura. Nestas áreas é hábito valorizar-se o artifício, mas a palavra “cliente” leva-nos para outros caminhos; torna a frase mais inesperada, mais controversa. Será que estamos perante uma academia da fraude comercial?

Esta é uma aula de design e este é um discurso muito comum, que eu ouvi diversas vezes ao longo (e depois) do curso, sob diversas formas. Ás vezes, dizia-se "educar" em vez de "enganar", mas qualquer uma das versões denota arrogância, paternalismo, talvez mesmo agressão. Em arquitectura, a relação com o cliente pode ser tempestuosa, mas não se usa este tipo de palavras. Se há algum engano, ele não está embutido no discurso profissional.

Mas qual é exactamente o engano que é promovido aqui?

A palavra design pode querer dizer "esquema", "plano", "intriga", etc. Existe um ensaio de Vilém Flusser sobre isso, no seu livro "The Shape of Things". No entanto, não me parece que a referência seja assim tão erudita — a maioria dos meus professores traduziam design por "desenho".

Os designers gostam de se ver a si mesmos como “smooth operators” e ”spin doctors”, mercenários do gosto que resolvem numa penada problemas que o cliente nem sabe que tem; professores Higgins paternalistas que educam e elevam o cliente — apesar dele mesmo — acima do seu mau gosto e ignorância.

Mas por detrás desta "panache" toda existe um medo de que seja tudo realmente um engano. Os designers gostam de acreditar na sua própria publicidade e são desta forma os únicos a não perceber o logro. As suas maiores vítimas acabam por ser eles mesmos.

É natural que um profissional duvide das suas próprias capacidades, testando-as e melhorando-as sempre que possível; parece mais improvável que alguém que tenha escolhido conscientemente e livremente uma profissão não acredite na sua legitimidade enquanto actividade honesta.

A razão para esta sensação fraudulenta encontra-se numa espécie de moralismo retrógrado que encara o comércio de ideias ou signos como uma espécie de “conto do vigário”, que não envolve qualquer tipo de bem material. Mas, numa sociedade capitalista, a produção de riqueza, mesmo o próprio dinheiro, não têm equivalente material; são circulação de informação pura. Os designers, que lidam com certos signos visuais, criam e administram capital sob a forma de informação e não deviam sentir-se demasiado mal por isso.

Um designer não se limita a dourar a pílula, alterando o aspecto de um produto existente previamente. Numa sociedade como a nossa, um jornal, revista ou mesmo empresa são imperceptíveis se não tiverem design. Nenhum deles pode ser isolado da sua imagem, muitas vezes só existindo por causa dela.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Moral da história: o chico espertismo bate a milhas o engenho. E a formação dos clientes?
- Sr. cliente este é um trabalho válido mas vai custar o suor da minha cara. Aquele do meu colega gráfico vai dar quase o mesmo resultado para o seu tipo de publico (o zé povo) e é mais em conta (desde que n seja na Norcópia, Copipress e todas essas pseudo-repografias que chulam os alunos de belas artes em panico para imprimir os trabalhos que acabaram na noite anterior, ou ainda na própria manha).

A presunção que nos impingem que temos de ter sobre os nossos proprios trabalhos de forma a que a nossa segurança iluda o cliente, torna-nos cada vez mais insesnsiveis em relação aos nossos erros. e nao nos torna criativos geniais! por isso eu digo NAO QUERO TRABALHAR NUMA EMPRESA E SE TRABALHAR POR CONTA PROPRIA VOU PARA ST. CATARINA TOCAR VIOLA.

Por essas e por outras é que o designer editorial da nova imagem do público tem emprego e eu vou desistir do curso e vou viver para Cuba.

3:25 da tarde  

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