segunda-feira, março 29, 2004

Criticar

Em Portugal, a ausência de uma crítica especializada distingue o design gráfico da maioria dos outros designs (moda, equipamento, etc). O grande público ignora o design gráfico quase totalmente, confundindo-o com marketing ou publicidade. Quando confrontados com esta situação, muitos designers já estabelecidos declaram não se interessar por uma divulgação da profissão - basta fazer o trabalho bem feito e com amor, etc. No entanto, quando as coisas dão para o torto é frequente ouvir tiradas como “o designer deve educar o cliente”.

Neste momento, estão em marcha autênticos cursos de formação de clientes (verídico!!!). Uma solução muito mais óbvia seria a crítica na imprensa geral. No entanto, a existência de uma verdadeira recensão da actividade gráfica nacional provocaria alguma má disposição, comparada com a sua não existência. Embora a crítica de café seja bastante dura, é muito raro um designer ser confrontado com uma recensão do seu trabalho. A pouca imprensa especializada — e não só — tem os seus canhões convenientemente apontados além-fronteiras.

O público interessa-se sobre o que lhe é pertinente, sobre aquilo que o afecta e emociona, aquilo que lhe está próximo. Na televisão e imprensa actuais, a ênfase é local. Notícias de bairro, pequenos acontecimentos elevados a escândalo. Para o melhor ou para o pior o público habituou-se a ser alvo de notícias. Enquanto o design gráfico internacional tenta alcançar uma voz mais activa dentro da sociedade, o design gráfico nacional parece satisfeito de simplesmente assistir descansadamente ao que se passa lá fora. Não se trata de protagonismo, mas simplesmente de estar presente.