Bartleby, o Designer
Uma das primeiras vezes que tive consciência da importância da tipografia na leitura de um livro aconteceu quando li o Moby Dick do Herman Melville. Foi um processo aventuroso que levou alguns meses e três edições diferentes. A primeira foi uma Penguin Popular Classics, com capas beges, que acabei por perder numa mudança de casa. Para não perder o ritmo, substitui-a por uma edição da Wordsworth Classics que durou mais algum tempo. A história era agradável e estimulante, mas a leitura em si era cansativa. O entrelinhamento era demasiado curto, a impressão esborratada. Tudo contribuía para uma mancha de texto pouco uniforme. Raramente conseguia ler mais do que uma dúzia de páginas de cada vez. Em desespero de causa, acabei por comprar uma edição anotada da Penguin Classics, de capa preta, muito bem paginada e impressa, com boas hierarquias e boas margens, que li de um fôlego.
O próprio enredo abordava questões de design de livros. Moby Dick é um livro tão obcecado por livros como por baleias. A certa altura estas chegam a ser classificadas por ordem de tamanho como se fossem livros: havia baleias folio, octavo, duodecimo.
Para quem pense que desperdicei dinheiro, a aventura completa ficou-me por cerca de oito euros. Agora, sempre que compro um livro com várias edições disponíveis na mesma língua, a paginação ajuda-me a decidir qual a mais adequada e, sinceramente, não me importo de gastar um pouco mais de dinheiro numa leitura mais confortável. Recentemente, abandonei uma edição brasileira da Arqueologia do Saber de Michel Foucault, em favor da edição portuguesa da Almedina, que se lê muitíssimo bem. A edição brasileira tinha uma fonte de texto mais ou menos ornamentada, quase Arte Nova (isto notava-se sobretudo nas maiúsculas) que a tornava bastante ilegível.
Voltando a Melville, existe outro texto - talvez o seu segundo texto mais conhecido - que devia ter uma pertinência particular para os designers gráficos actuais. É um pequeno conto, passado na Wall Street do século dezanove, chamado Bartelby, o Escrivão. A história é contada sob o ponto de vista do chefe do escritório. Ele descreve o dia-a-dia no escritório; as personalidades peculiares dos seus empregados; a chegada de um novo empregado, Bartleby, que põe em causa tudo isto, recusando-se a fazer cada vez mais coisas. Talvez seja uma das primeiras histórias conhecidas sobre tensões no escritório.
O que me interessa aqui não é tanto o enredo, mas a profissão de Bartleby. Ele é um escrivão, alguém que passava documentos de escritório à mão, ocupando-se da sua aparência visual e da sua reprodução numa altura em que ainda não havia impressoras laser, jacto de tinta ou mesmo máquinas de escrever e papel químico. E é praticamente isso que muitos designers fazem neste momento: asseguram o aspecto visual dos documentos empresariais, internos e externos. A descentralização laboral assegurada pelo computador deu origem ao designer-escrivão - o género mais comum de designer actualmente. A identidade gráfica de muitas pequenas empresas é praticada a cada momento por este tipo de designer. Ele faz tudo, desde o cabeçalho do memorando, até ao relatório de contas, passando pelo letreiro a dizer que a máquina de café está avariada. É um trabalho estúpido, aborrecido, frustrante. É secretariado visual.
Neste contexto, o discurso do modernismo, com a sua forma/função, a sua neutralidade - enfim, todo o tipo de discurso teórico ou crítico - pode parecer redundante, impossível de se ajustar a estas tarefas de secretariado. Agora, os pobres designers até têm que rever os textos.
Embora os designers gráficos gostem de acreditar que descendem dos tipógrafos, dos publicitários, das vanguardas do início do século XX, a verdade é que os nossos antepassados mudam com os tempos e, hoje em dia, o antepassado da maioria dos designers é o humilde escrivão.
O próprio enredo abordava questões de design de livros. Moby Dick é um livro tão obcecado por livros como por baleias. A certa altura estas chegam a ser classificadas por ordem de tamanho como se fossem livros: havia baleias folio, octavo, duodecimo.
Para quem pense que desperdicei dinheiro, a aventura completa ficou-me por cerca de oito euros. Agora, sempre que compro um livro com várias edições disponíveis na mesma língua, a paginação ajuda-me a decidir qual a mais adequada e, sinceramente, não me importo de gastar um pouco mais de dinheiro numa leitura mais confortável. Recentemente, abandonei uma edição brasileira da Arqueologia do Saber de Michel Foucault, em favor da edição portuguesa da Almedina, que se lê muitíssimo bem. A edição brasileira tinha uma fonte de texto mais ou menos ornamentada, quase Arte Nova (isto notava-se sobretudo nas maiúsculas) que a tornava bastante ilegível.
Voltando a Melville, existe outro texto - talvez o seu segundo texto mais conhecido - que devia ter uma pertinência particular para os designers gráficos actuais. É um pequeno conto, passado na Wall Street do século dezanove, chamado Bartelby, o Escrivão. A história é contada sob o ponto de vista do chefe do escritório. Ele descreve o dia-a-dia no escritório; as personalidades peculiares dos seus empregados; a chegada de um novo empregado, Bartleby, que põe em causa tudo isto, recusando-se a fazer cada vez mais coisas. Talvez seja uma das primeiras histórias conhecidas sobre tensões no escritório.
O que me interessa aqui não é tanto o enredo, mas a profissão de Bartleby. Ele é um escrivão, alguém que passava documentos de escritório à mão, ocupando-se da sua aparência visual e da sua reprodução numa altura em que ainda não havia impressoras laser, jacto de tinta ou mesmo máquinas de escrever e papel químico. E é praticamente isso que muitos designers fazem neste momento: asseguram o aspecto visual dos documentos empresariais, internos e externos. A descentralização laboral assegurada pelo computador deu origem ao designer-escrivão - o género mais comum de designer actualmente. A identidade gráfica de muitas pequenas empresas é praticada a cada momento por este tipo de designer. Ele faz tudo, desde o cabeçalho do memorando, até ao relatório de contas, passando pelo letreiro a dizer que a máquina de café está avariada. É um trabalho estúpido, aborrecido, frustrante. É secretariado visual.
Neste contexto, o discurso do modernismo, com a sua forma/função, a sua neutralidade - enfim, todo o tipo de discurso teórico ou crítico - pode parecer redundante, impossível de se ajustar a estas tarefas de secretariado. Agora, os pobres designers até têm que rever os textos.
Embora os designers gráficos gostem de acreditar que descendem dos tipógrafos, dos publicitários, das vanguardas do início do século XX, a verdade é que os nossos antepassados mudam com os tempos e, hoje em dia, o antepassado da maioria dos designers é o humilde escrivão.
22 Comments:
darwin não diria melhor. que belo txt.
Como seria de esperar de mais um Professor que deve o seu posto à velha combinação: cunha + tacho.
Agora já vi de tudo: Os novos catedráticos da FBAUP iniciam o exercicio das suas funções como "assistentes de informática"
Será para aprenderem a ser humildes ?
Não creio...
Apenas cimenta a mediocridade do País onde nascemos e onde se premeia unicamente a dita M.
Parabens João da C. por seres dos poucos capazes de levantar algumas das verdades escondidas...
Ó cunha, não precisas de ficar assim. O meu tio trabalha no blogger; por um preço especial ele também te arranja um blog.
Gostava apenas de esclarecer que eu não era “assistente de informática”, mas técnico superior de design – foi o único emprego a que concorri, até ser professor, onde pediam alguém especificamente licenciado em design de comunicação. Quando entrei para dar aulas na FBAUP tinha média de curso superior a dezasseis, uma pós-graduação, mestrado quase concluído (terminei-o seis meses depois) e já dava aulas de mestrado há algum tempo; fazia design e bd há mais de sete anos. Por último, nada disto é uma verdade escondida. Nunca falei do meu currículo ou da minha profissão no meu blogue porque acho que qualquer pessoa pode escrever sobre design, independentemente da sua formação – até os professores de design e os “assistentes de informática”.
Sinceramente o Cunha nao sabe o que diz.. "Apenas cimenta a mediocridade do País onde nascemos". Eu nao sou pessimista de maneira alguma mas penso que tu, Cunha, te reduses a um mediocre. Se foi cunha mais tacho quero lá saber, nao me importa, o que é certo é que sabe ensinar com todo o seu vasto conhecimento. Parem de se comerem uns aos outros. Estas merdas sao demais. dass
acho que há aqui qualquer coisa a aproveitar do comentário do Cunha.
Sempre me pareceu que alguma malta do Porto é muito semelhante em termos de processo. Este Ressabiator, por exemplo, faz-me lembrar os Blind Zero: respeitados, bons músicos, selectos, premiados; mas desde o ínicio que há ali qualquer coisa que não é bem deles.
Será Pearl Jam?
ao discurso do/a cunha falta acrescentar talvez o da inveja, a dele próprio talvez.
cada vez acredito mais que isto só premeia o bocejo e a indiferença, e que se têm de arranjar canais próprios para se poder argumentar honestamente sobre questões que interessam a quem quiser realmente discutir, com cara.
é absolutamente cobarde e medíocre lançar acusações como se fossem argumentos superiores, inatacáveis, e que criassem uma verdade que destronasse todas as outras.
É também isso que acrescenta à mediocridade a força que já possui.
mais uma vez cá estamos nós a deixar escapar mais uma oportunidade de discutir o que - para alguns - é essencial, o design.
ataca-se o currículo de um tipo, ataca-se o sítio de onde ele é, e ninguém consegue dizer o que quer que seja sobre o que ele escreve, a não ser que há mais gente a escrevr? Até o João Jardim tinha vergonha desta discussão...
lamento que aqui, por tradição, ninguém aceite uma crítica.
A discussão em torno do design terá de viver com a discussão, a heterogeneidade das ideias e não apenas com a concordância parola com que alguns decidem bafejar este blog.
Há uma coisa que deve fazer comichão a muita gente e com razão: é a penosa elevação a personalidade de mérito, de quem não apresenta uma única ideia nova, interessante e de alargado debate.
Assim qualquer meio de comunicação visa apenas a atenção do seu criador.
Não acho bem.
Olá Ressabiator.
apesar de concordar com a frase "Parabens João da C. por seres dos poucos capazes de levantar algumas das verdades escondidas..." acabo afectado pelo fenomeno.
se houve alguma coisa que pos as pessoas a comentar deste modo a afixassao nao foi a profissao de Bartleby mas as acusassoes (e elogios) feitos por alguem de cabessa quente (mais ressabiado ainda). isso nao é mau de todo. tu proprio afirmas muitas vezes que as discussoes em design so sao boas quando as vozes se levantam. discordando do glaucon e concordando com alguem: antes de sermos designers, padeiros, artistas, empresarios ou militares devemos pensar como seres humanos.
É sempre mais facil receber palmadinhas nas costas porque nunca somos empurrados (darwin não diria melhor. que belo txt.) mas as coisas descontrolam-se sempre durante quinze minutos que sejam.
disseste-me da tua política bloguística de nao responderes nos comentários, eu próprio tinha uma (nao responder a comentários anónimos) que acabei por corromper nalguma situassao mais incómoda. O que me parece parece novo é o facto de alguém relacionar as tuas competencias com as minhas.
Esclaresso desde já a minha posissao.
Apesar da curta diferenssa de idades a tua atitude é de longe mais (hmmm... como dize-lo..) erudita. Apesar de nao me sentir completamente ignorante quando falamos, sei que nunca folheei sequer um quarto dos livros que já leste (e releste). acredita que quem te conhece nao duvida um segundo que aquela FBAUP nao te está a fazer um favor.
Abrasso de um teclado holandes com uma letra tipo relógio digital dos anos 80 na caixa de comentários que torna quase ilegível o que escrevo.
"lamento que aqui, por tradição, ninguém aceite uma crítica."
Aqui vai uma referência útil a quem queira ter a sua crítica aceite
cunha e anónimos,
"lamento que aqui, por tradição, ninguém aceite uma crítica."
sim, inclusive vocês. quem critica e discorda também pode ser criticado. nas discussões deste post, já houve acusações pessoais mal ou nada fndamentadas; insinuações e preconceitos em relação ao local do nascimento de alguém; acusações de falta de originalidade que se ficam pela insinuação. parece uma boa maneira de "viver com a discussão, a heterogeneidade das ideias"
se querem aceitação, aceitem lá isto.
continuo sempre a achar graça a certas pessoas. Há uma espécie de vassalagem cada vez mais exponenciada e sem razão. Pensava que o ressabiator era adulto o suficiente para se poder defender sozinho. Aparentemente não...
Começo também a desconfiar das razões por trás de tais defesas, quando oprimem a forma e o conteúdo dos comentários; pois se querem discutir ideias e não individuos, então não liguem ao meu nome.
Quanto ao sr. Luis Inácio, é Stefan Sagmeister e não Stagmeister; bem sei que o senhor é austríaco mas não é razão para erro, até porque somos sempre penalizados por estas desatenções na linguagem verbal. Não admira por isso que o "resto do mundo" faça o mesmo em relação à nossa linguagem visual.
E sim, estou absolutamente farto de palmadinhas nas costas, de quem as faz e de quem as acata, retirando daí singularmente um elogio. É ingenuidade.
E essa questão de não comentar no local de comentários do próprio blog, é de estrela, não tenho a menor dúvida!
por acaso não concordo absolutamente nada na diferenciação de desenho para design gráfico, é só um anglicismo. e por acaso até acho que desenho gráfico (de comunicação ou de informação) mais assertivo tanto linguística como conceptualmente.
é a diferença entre o pretensiosismo e o rigor, talvez.
de qualquer forma já é um termo aceite, o que não quer dizer que seja consensual ou que tenha um carácter universal que se distinga assim tanto da realidade.
ok. mas porquê? o que é que os distingue? enfatizar o quê a disciplina, o método, a profissão, o ego? o que é que no fundo, para ti, diferencia desenho de design?
bom, a resposta a essa pergunta deveria ser mais ou menos óbvia para quem está ligada ao design de comunicação/gráfico.
se alguém, nessa situação não se encontra esclarecido, bom, então, talvez este blog não esteja a fazer o que devia.
certo. mas o óbvio nem sempre é universal, e o que eu queria saber é o porquê desta diferença tão marcada entre "desenho gráfico" e "design gráfico". para mim não há assim tanta ou mesmo nenhuma, mais o "desenho gráfico" ou "design gráfico" como queiram chamar, é uma espécie de sombrinha que abriga uma série de valências e formas de expressão.
Para mim não há diferença, desenho ou design é a mesma coisa [embora prefira linguisticamente a primeira]. Desenho ou design é o acto de ver melhor para expor correctamente. Desenho ou design é raciocínio, interpretação e decomposição espácio-temporal [no fundo, e numa perspectiva alargada, é o acto de marcar tanto cultural, como contextualmente as experiencias temporais que vamos achando pela frente].
Não reside no acto de registar que encontro a definição de desenho mas sim na capacidade que ele tem de fazer ver as coisas, e isso pode ser feito das mais diversas maneiras. Registar é observar. Assim, se desenhar é “registar algo” o desenho, ou o design, também pode se o simples acto de olhar, e isso também não faz um designer, ou um desenhador, é preciso também interpretar e por em prática o que se dai sai enquanto ideia operacionalizada, seja objecto, comunicação ou forma gráfica.
Também não é para mim um protocolo entre arte e técnica, naturalmente, é um conceito aberto, e é para mim uma coisa e para ti outra, que não fica muito distante mas que também não é exactamente o mesmo.
Para mim, por exemplo, não faz sentido distinguir-se ilustração, infografia, motion graphics, equipamento, ou comunicação. Acho que isso serve unicamente o mercado, a troca, mas isso é outra questão.
Depois também acho que não são 4 ou 5 anos numa licenciatura, que fazem um designer ou o distinguem de um desenhador, usando os teus termos.
A questão não está no distinção entre design e desenho mas no que se desenha e na forma como se passam os conceitos colados às diferentes peças, que passam pelas mão de um designer [ou desenhador].
O que queria perceber inicialmente era essa distinção entre design e desenho que referiste, esse ponto está esclarecido, embora não concorde totalmente.
Ainda sobre as políticas da Blogosfera
Foi a segunda vez que me removeram um comentário na Blogosfera. A primeira foi no DesignObserver quando descobri que o Momus que lá escrevia era o mesmo que vinha tocar ao . Entusiasmei-me e descrevi-lhe O cinema no local destinado aos comentários a um post acerca de tudo menos o Passos. O senhor teve a delicadeza de me enviar um e-mail explicando a razao pela qual tinham removido o meu comentário. Combinámos um café no dia do concerto dele aí no Porto mas infelizmente fiquei retido em casa por uma gripe.
Nunca deixei de voltar ao DesignObserver por causa dessa situassao e até voltei a comentar textos sem medo de ser removido o bloqueado.
Agora a ironia:
Prometo que tentarei incutir um tom moderado a todos os meus comentários.
Também espero voltar e pernoitar por aqui cada vez que a amabilidade e a piedade dos editores me abrassar. Conto (cabisbaixo mas sem medo) com o meu terceiro comentário apagado por falta de pertinencia, de clareza no discurso, e por promossao de servissos ou produtos comerciais. O meu orgulho será sempre pisado e esquecido debaixo das botas de quem ousa enterrar o sacho nesta terra ainda árida do design portugues. Que a discusao seja cada vez mais frutífera!
Por outras palavras whatever...
o comentário foi apagado porquê não tinha a ver com este texto. se tivesses deixado um mail eu tinha-te dito isso.
Para o melhor e para o pior: joaodaconcorrencia no gmail.
Para finalizar:
Um pouco sobre a (r)evolução dos termos porque para comunicar é necessário esclarecer o significado.
O design gráfico pode ser entendido e concebido como com actividade estratégica e como especialidade técnica. A forma, o estilo, a linguagem ou idioma por ele utilizados desempenham um papel central na veiculação e construção da mensagem. O designer é um porta vozes (transporta a sua e a dos outros).
Historicamente começámos em Lascaux, construtores de signos visuais, descendemos de provedores de caligrafia legível, de "humildes escrivãos", realizadores de protótipos e reprodutores técnicos.
Se nos tentarmos ver na pele do escrivão podemos pensar à partida que a nossa função está a ser desvalorizada (em cenários mercantis e mesmo e sociais). Podemos pensar que os serviços prestados pelos "estrategas da comunicação" estão a subir na hierarquia enquanto no nosso escritório até a máquina de café continua avariada. Aparentemente nada de bom se avizinha.
Um pequeno parágrafo para distinguir o "escrivão" do "estratega": a principal diferença ainda reside no tamanho do público e não na habilidade, no talento, muito menos na competência intelectual.
Assim o escrivão do sec. XXI é aquele que (à semelhança dos que serviam aos poucos locais do conhecimento) traduz, legenda, organiza, normaliza e torna compreensível mensagens para um circuito fechado. Clipping e copywriting (não confundir com copyright) são as mais óbvias sofisticações do termo. As diferenças entre a actividade de um designer de tipos e um designer de cartazes do século XVIII eram ainda passíveis ao encaixe na classificação de que se fala: criação/manufacturação/instruções de uso VS edição/composição/aplicação. Hoje um tipógrafo ou um programador ainda podem ser bons escrivães se trabalharem para um público restrito seja ele constituído pelos redactores de um jornal, por um grupo de designers ou funcionários de uma qualquer instituição ou empresa...
Director artístico, editor ou técnico de marketing são definições que, apesar convenientes, não abragem certamente a totalidade da actividade que é o design, mas funcionam como defesa do designer à sociedade de informação.
Pelo contrário, o programdor e o tipógrafo que não encaram a informação como um ataque e reagem integrados na máquina social do mesmo modo que o escrivão o fazia, trabalhando para um público alvo, eliminando de modo laboratorial muito do ruído que vai perturbando os estrategas directores artísticos e editores.
A especialização assume um papel central e vai ajudando na diferenciação de actividades profissionais. Um designer que trabalhe para menos pessoas está, por regra, mais preparado para resolver tarefas particulares enquanto um designer que produza independentemente conhece a profissão de mais perspectivas abrangendo mais área de acção (possivelmente de jeito superficial).
Apesar de tudo, há já poucas coisas que evitem uma mudança radical de valores e a hierarquização social e mercantil pode sofrer alterações dramáticas nos próximos tempos. Para o designer de "uso interno" vão sendo necessárias "banalizações turísticas", ao mesmo tempo que o designer de "uso externo" vai precisando de "especializações part-time" porque a saudável fluidez das actividades profissionais sempre dependeu do tempo de férias.
No final ambos têm mais em comum do que o que se possa pensar e para se inserirem no mercado precisam de um produto e (por enquanto) a criatividade ainda se vende.
Aparentemente nada de bom se avizinha.
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